Thursday, November 05, 2015

Mobilidade pedonal em Cascais - um exemplo

Na Rebelva, Carcavelos, a Rua de Santarém foi alvo de intervenção há poucas dias.
O pavimento da rua foi renovado e o acesso do passeio a 2 passadeiras foi refeito em rampa e dotado de bom piso. Melhorias positivas.

Em boa parte do troço intervencionado, porém, o passeio é muito mau: é estreito, inclinado, com muitos obstáculos que o estreitam ainda mais. Nas horas de atividade dos restaurantes próximos, o passeio está sempre ocupado por automóveis. A velocidade desta rua é muito excessiva (apesar do sinal de 30km/h).

Apesar de tudo isto, esta intervenção deixou o passeio tal como estava, como documentam as fotografias abaixo e com exceção dos pontos exatos das passadeiras.

Assiste-se assim ao incrível de alguém com um carro de bebé ou cadeira de rodas poder agora atravessar melhor a rua, mas logo a seguir ter que circular pela estrada - e pelo meio da estrada, porque normalmente não pode sequer ir junto do medíocre passeio, pois está ocupado por carros. Será que os técnicos que desenham as nossas cidades alguma vez andaram a pé, empurrando carros de bebé ou cadeiras de rodas?

O passeio ficou portanto tal como estava, desconfortável, perigoso e grande parte do tempo indisponível, ao mesmo tempo que a velocidade na rua aumentou, pois o piso ficou melhor e o desenho da rua nada fez que induzisse menor velocidade.

É inacreditável como se faz um investimento na remodelação de uma rua, aparentando existir alguma preocupação com os peões (caso das passadeiras), mas o básico, e que salta à vista, fica no mesmo baixíssimo grau em que estava.

E não é por falta de espaço que tal aconteceu: como se pode ver nas fotografias, a rua é de sentido único e tem largura para pelo menos 2 carros lado a lado, e um passeio mais largo (poderia ser muito mais largo) não rouba espaço de estacionamento, pois ali é proibido estacionar (embora tal seja letra morta). Estreitar a faixa de rodagem, aliás, teria como consequência a redução de velocidade.

Também não foi certamente por falta de orçamento nem oportunidade: se se faz aquela intervenção nas passadeiras, como não fazer também, e com maior prioridade, o alargamento de um passeio em talvez 20 metros?

Julgo que infelizmente este caso ilustra o menosprezo que há em Cascais por quem precisa ou quer andar a pé.


PS: 
No segundo dia da obra chamei a atenção da CM para a evidente necessidade de intervir no passeio.
No quinto dia de obra e dada a urgência, dirigi o mesmo pedido ao Presidente da CM.
Alguns dias após a obra terminar, compareci a uma reunião com técnicos da Cascais Próxima, ie os executantes do projeto e não os seus autores e donos da obra, a CM.




3 comments:

Vasco Soeiro said...

"É inacreditável como se faz um investimento na remodelação de uma rua, aparentando existir alguma preocupação com os peões (caso das passadeiras)" a preocupação nem sequer foi com os peões, foi com os automobilistas. se a preocupação tivesse sido com os peões, as passsadeiras teriam sido elevadas à altura dos passeios, criando uma continuidade de altura. a intervenção foi feita de modo a que os automobilistas não tenham o mínimo obstáculo. lamentavelmente, muita gente ainda não entendeu (ou não quis entender) que a tinta no chão não salva vidas...

David Pereira said...

Bom dia!

Passem pelo meu blogue e leiam o meu artigo sobre o bastante heterogéneo trio de ataque do Estoril:

http://davidjosepereira.blogspot.com/2015/11/a-heterogenea-linha-ofensiva-estorilista.html

Depois deixem o vosso feedback, é importante para um debate saudável sobre o tema.


Abraço

jp said...

Vasco, concordo. A prioridade é colocar o mínimo de obstáculos aos automobilistas.